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Quatro Dicas de Perseverança e Persistência que o levarão ao sucesso

Na Holanda, ao fim da sexta classe da escola básica, o aluno escolhe o nível de ensino secundário que irá proseguir, de acordo com as suas capacidades e motivação. Naquela altura havia basicamente 5 níveis, que vou chamar aqui o nível 1, 2, 3,4 e 5, dois quais só o nível 4 e 5 dão acesso à universidade. Devido às minhas dificuldades com matemática, os professores estavam indecisos sobre o nível indicado para mim, que seria 2 ou 3. Depois de algumas reuniões, a escolha foi uma escola secundária que tinha os níveis 3 e 4. Nesta escola secundária decide-se ao fim do primeiro ano se o aluno vai para o nível 3 ou 4. No fim deste primeiro ano letivo, fiquei no quadro de honra e fui para o nível 4. Tive que estudar sim, não podia permitir-me não estudar como alguns outros alunos para quem a matéria era mais fácil, mas atingi o meu objetivo: ir à faculdade.

Esta experiência marcou bastante a minha vida e quando encontrei recentemente o livro ‘Grit – O Poder da paixão e perseverança’ de Angela Duckworth, investigadora, professora e consultora de renome, fiquei curiosa em saber as respostas que ela tinha para esta pergunta: talento vs perseverança, o que é mais determinante para ter sucesso?formiga

O livro, cheio de estudos ciêntificos, experiências próprias e casos concretos, fala da exigente Academia Militar de West Point e o ‘National Spelling Bee’ (concurso americano de ortografia para jovens e crianças), onde só uma pequena percentagem consegue alcançar o fim devido a imensos obstáculos. Também fala do caso do autor John Irving, que escreveu vários bestsellers apesar de sofrer de uma dislexia grave. Como estas pessoas conseguiram mesmo assim ter sucesso? A resposta que Angela encontrou está numa combinação de paixão e garra, o ‘grit’. John Irving perdeu mais tempo a rescrever os seus livros do que escrever, não desistia até achar que o livro tinha a qualidade que ele exigia. Os atletas de topo treinam todos os dias várias horas para alcançar os níveis de excelência que vemos na televisão. Sim, um atleta pode ter pernas compridas que facilitam ganhar num determinado desporto, mas não garante que é o vencedor. Temos a tendência para achar que por exemplo Cristiano Ronaldo, depois de ter ganho tantos prémios extraordinários, é um talento nato. Mas já pensou quantos milhares de horas de treino foi preciso para chegar aqui, desde a sua infância? Quantas crianças têm esta paixão e disciplina para desde tão cedo seguir o seu sonho?

O ‘grit’, ou seja a garra, perseverança e persistência é algo que vem dentro de nós e determina com mais certeza se vamos conseguir ter sucesso do que o talento. É o foco no objetivo do longo prazo em vez do foco curto prazo. É ver a vida como uma longa maratona em vez de uma corrida de velocidade rápida, usando as palavras que Angela usou no seu famoso TED talk.

O livro menciona quatro caraterísticas comuns das pessoas que têm mais garra que outras. São caraterísticas que se revelam por norma nesta sequência:

1- Em primeiro lugar, tem que haver Interesse e Paixão por um determinado tema ou trabalho. Um trabalho pode ter sempre componentes que gostamos menos, mas de forma geral estas pessoas gostam daquilo que fazem.

É crucial ter um trabalho que está ligado aos nossos interesses. Já nas crianças podemos constatar onde estão os seus interesses, apesar de não estar ainda completamente definido. Mas apesar de saber o que gostamos e não gostamos, a maioria das pessoas não estão felizes com o seu trabalho.

Nas minhas formações na área de marketing pessoal encontro frequentemente pessoas que não estão motivadas por várias razões, uma delas é o próprio conteúdo do trabalho. Se depois analisarmos melhor através de alguns exercícios que aspetos a função ideal delas teria que ter, descobrem que na maior parte das vezes a função tem muito mais aspetos positivos do que pensavam. Importante é tentar aumentar o tempo que ocupam estes aspetos positivos e tentar reduzir os aspetos que tiram a motivação. Pode ser através de uma redefinição de funções ou a possibilidade de delegar certas atividades.

2- Em segundo lugar, estas pessoas têm a capacidade e motivação de Praticar e Praticar. As pessoas mais bem sucedidas têm a disciplina de praticar até verem melhores resultados. Não desistem quando uma situação se torna difícil mas sim aprendem a ultrapassá-la. São pessoas que se rodeiam de pessoas que são melhores do que elas para assim terem oportunidades de aprendizagem e uma forma saudável de competição. Infelizmente muitas pessoas têm medo de falhar, pois isto é associado ao fracasso. Mas imagine, se um bebé não tenta sentar-se 1000 vezes, ficar em pé ou a andar, para onde teria ido a evolução humana? Temos que criar uma sociedade onde falhar e tentar novamente é considerado algo bom, corajoso e uma oportunidade de aprendizagem em vez de ser um fracasso.

Um outro aspeto importante aqui tem a ver com disciplina e foco. Temos a tendência de dizer que as pessoas que têm muito sucesso devem isto à sorte ou talento. Porém, vários estudos mostram que em média temos que praticar dez mil horas para sermos realmente bons numa determinada atividade. Dez mil horas! Por isso lembre-se; nem tudo é o que parece.

3- O terceiro ponto é a Relevância. A nossa paixão relativamente a um trabalho cresce se vemos que fazemos algo que faz sentido para os outros, que ajuda a melhorar a vida de outras pessoas.

Antes de ter o meu próprio negócio e fazer o que realmente gosto de fazer, estava numa função comercial onde não sentia desafio nenhum. Tinha escolhido este trabalho para poder sair cedo de forma a estar com a minha filha de 9 meses o máximo de tempo possível. Naquela altura li numa revista sobre o caso de uma operadora de caixa num supermercado, que fazia o seu trabalho com muita alegria e prazer, que conhecia todos os clientes e fazia pequenas conversas com eles. As pessoas até iam para a caixa dela só para poder ser atendidas por esta simpática senhora. Ela, apesar de ter uma função aparentemente pouco interessante e relevante, estava de facto a fazer a diferença na vida das pessoas que atendia. Foi um dos momentos em que me apercebi de que, independentemente do nosso nível, temos que sentir que estamos a contribuir com algo neste mundo, ter valor e fazer aquela diferença, por mais pequena que seja. Faça a si mesmo as seguintes perguntas: Onde gostaria de estar daqui a 10 ou 15 anos? Quem o inspira? Porquê? Estas perguntas estão diretamente ligadas aos valores mais importantes para nós, que devemos encontrar na nossa vida, no nosso trabalho, em tudo que fazemos.

4- Por fim, o quarto elemento é a Esperança, a perseverança quando as coisas não correm como nós queremos. Não é necesssariamente o último aspeto da garra pois está presente em cada fase. Importante aqui é mencionar que as nossas crenças, inteligência e capacidade de aprender coisas novas é determinante para ter sucesso. É a nossa interpretação sobre a realidade que é mais importante do que a realidade ‘objetiva’. É importante acreditar que podemos aumentar as nossas capacidades, mesmo que falhemos numa determinada fase, e devemos sempre continuar a tentar para melhorar e assim atingir o nosso objectivo.

Gostava de sublinhar que não é preciso fazer tudo sozinho. Há ajudas como por exemplo um coach, mentor ou ‘rolemodel’ que nos podem ajudar a atingir as nossas metas e mudar a nossa visão se esta for mais negativa do que é necessária.

Se depois de ler este artigo ficou interessado em saber quanto ‘grit’ tem, consulte o site  https://angeladuckworth.com/grit-scale/ onde encontra um barómetro para medir o seu nível de garra.

Agora que sabe se tem mais ou menos garra, faça a seguinte pergunta a si mesmo: Estou onde eu quero estar? Se não estiver, o que posso fazer para atingir a situação desejada? Lembre-se que temos muito mais influência sobre a nossa vida e o nosso sucesso do que julgamos!

(este artigo foi publicado numa versão mais curta na Revista Recursos Humanos Magazine de Março/Abril 2017)

Manon Rosenboom Alves

Consultora  & Formadora na Reinvent Yourself – powered by Colour me Beautiful Portugal