Depois do Coronavírus, ‘Business as Usual’?
Quem imaginou há um mês que estávamos hoje fechados em casa e a enfrentar todas as incertezas que vieram com a pandemia. O vírus é atualmente o único que viaja para onde quiser e com quem quiser. E também não se preocupa com as suas consequências. Isto lembra-nos alguém?! O nosso modo de viver, virado para a satisfação dos nossos prazeres no momento, com um enfoque grande no consumismo (pois ‘dá felicidade’), foi obrigado a mudar à força e repentinamente.
Algumas pessoas encaram esta situação como algo positivo, que as obrigam a refletir sobre o que realmente é importante na vida. Outras pessoas entraram em desespero, porque não sabem como sobreviver, algumas infelizmente literalmente.
Recentemente usei este gráfico numa apresentação sobre Personal change management, que mostra as fases pelas quais passamos quando enfrentamos uma mudança. Penso que algo parecido se passa neste momento, apesar de as pessoas poderem estar em fases diferentes.
Ninguém sabe o que vem a seguir. Há cientistas que dizem que não será o último vírus e ele pode voltar, até mutado. Teme-se que a crise económica que virá a seguir terá um impacto ainda mais negativo sobre a humanidade do que o próprio vírus. O que podemos fazer? Parece que é nada, mas este mindset não vai ajudar-nos a sobreviver nem ao vírus nem à crise económica.
Quando sofremos de stress em excesso, o nosso raciocínio pára. A amígdala, função do cérebro que interpreta os perigos (físicos e emocionais) dominará e vai optar por comportamentos impulsivos e emoções como a ansiedade e medo. Se não tivermos consciência desta situação e da forma como reagimos, podemos piorar a situação ainda mais para nós, pois só vemos cenários preocupantes e fatais.
O que podemos fazer então? Se realmente quer criar a melhor situação possível para si, já tomou uma decisão importante: reconhecer a situação atual e querer melhorá-la!
Em baixo dou alguns conselhos que também abordo nas formações sobre Mindfulness e Comunicação consciente:
- Reconhece os seus sentimentos e aceite-os. Na nossa sociedade em que ‘temos’ que ser sempre felizes, é um exercício difícil para muitas pessoas. Não faz mal se se sente ansioso ou zangado. Este exercício funciona ainda melhor com os olhos fechados e concentrado na respiração.
- Se tiver reuniões online com os colegas e nota que está num estado mais ansioso, admita-o. Todos nós compreendemos melhor a situação pela qual o outro está a passar e ajuda a ter mais paciência. Se não disser e começar a comunicar de forma mais agressiva e sem paciência (às vezes sem ter esta consciência), pode afetar a conexão e colaboração com a equipa. Certamente será algo novo neste contexto, mas lembre-se, é a primeira vez que está a passar por esta situação.
- Faça exercícios de respiração. Pode demorar apenas um minuto, mas já ajuda a acalmar, pois traz a nossa mente para oo aqui e agora. Estamos muito habituados a ter certas certezas no médio prazo, pelo que temos que mudar o nosso mindset para o agora. Aconselho a ver este vídeo curto, no qual um budista fala de forma animada deste macaco na nossa cabeça que precisa de ser acalmado (www.youtube.com/watch?v=nOJTbWC-ULc).
- Se respirar não funciona para si, comece por observar de outra forma os objetos à sua volta. Pegue num objeto, sinta a sua temperatura, o seu toque, cheiro etc. Observe como se nunca o tivesse visto, sem julgamento.
- Comecei há algum tempo a refletir sobre o que realmente preciso na vida e o que me faz feliz e realizada. Não são claramente as coisas que tenho, mas sim os momentos em família e com os meus amigos chegados, o meu trabalho onde consigo enriquecer as pessoas com novas competências e confiança, e as atividades de voluntariado que definem o meu propósito. Mas com as incertezas a nível do rendimento numa situação em que vão acontecer coisas que não vou poder controlar, prefiro focar a minha mente naquilo que consigo controlar. Faça a pergunta: ‘O que realmente preciso na vida e o que posso dispensar?’ Aconselho a ver o excelente documentário ‘Minimalism’ no Netflix, que fala de um movimento que vive de forma consciente e focado naquilo que é o suficiente e com o mínimo possível relativamente às obrigações financeiras. Pode ver o trailer neste link: (www.youtube.com/watch?v=0Co1Iptd4p4)
- Estudos mostram que o que faz um ser humano sentir-se realizado é ajudar o outro. Mais do que nunca esta qualidade vai definir o futuro da humanidade. Vamos ceder a comportamentos primitivos e egoístas, ou vamos manter a solidariedade que vemos agora à nossa volta? Questionar-se como pode ajudar o outro não só ajuda uma outra pessoa, ajuda também a si próprio. Veja como pode continuar a colocar à disposição (algum do) seu conhecimento para continuar a ser ativo e útil.
- Neste âmbito, verifique também os inúmeros cursos que estão a ser oferecidos de forma completamente gratuita para continuar a investir em si. Deixo aqui um link onde universidades com a Harvard e Yale oferecem cursos fantásticos, sem qualquer custo: https://www.classcentral.com/collection/ivy-league-moocs. Estar isolados não significa que não podemos aprender habilidades e competências novas. Como li recentemente: Um espírito rico nunca está sozinho!
Por fim e respondendo ao título: não acredito que depois desta vaga do coronavírus nós vamos voltar a viver e trabalhar como antes. Muitas empresas infelizmente vão ter que fechar, pessoas vão ser despedidas e ninguém sabe ainda o rendimento que terá no futuro. Apesar de muitas consequências negativas que se avizinham, também vejo alguns pontos positivos.
Em primeiro lugar, vamos questionar-nos mais do que antes se realmente precisamos de comprar aquele item, se precisamos daquela viagem e se é necessário fazer aquela reunião presencialmente. O teletrabalho em que muitos trabalhadores se viram forçados a trabalhar, vai provar que é possível ser produtivo e responsável quando se trabalha a partir da casa, o que vai ajudar o equilíbrio entre trabalho e família. Consequentemente a poluição vai diminuir e ganhamos o tempo que estávamos nas filas, todos os dias, semanas, meses e anos (já fez o cálculo das horas que já perdeu estando em filas?). Também acredito que muitos profissionais vão reinventar-se e já estamos a assistir a isso. Eu própria estou a reinventar o meu trabalho de modo online e a perceção é muito mais positiva do que pensava! Claro que uma sessão de mentoring ou um curso dado presencialmente é mais satisfatório, tanto para os formandos como para mim, mas nestes tempos a nossa flexibilidade, adaptação e criatividade são fatores cruciais para a nossa sobrevivência.
Fiquem bem, fiquem calmos.
Manon Rosenboom Alves
Founder & Managing Director Reinvent Yourself
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